"Em Mateus 10:34, Jesus disse: 'Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada'. Por favor, explique esse versículo."
O texto não se refere a uma revolução armada ou guerrilha. O seu significado é que a mensagem do Evangelho requer uma tomada de decisão e mudança de vida. E esta mudança causa uma reação por parte de outras pessoas. Por causa disso, surgem divisões na família, no trabalho, na escola e em todas as áreas do viver, sendo mostrado pelo Mestre como “espada”.
A decisão pelo Evangelho, automaticamente, é uma ruptura com os padrões ditados pelo “mundo”, que é o sistema governado pelo diabo. “E é assim que o julgamento é feito: Deus mandou a luz ao mundo, mas as pessoas preferiram a escuridão porque fazem o que é mau” (João 3:19 – NTLH).
Os cristãos por natureza amam a paz e os bons relacionamentos. Mas por não se enquadrarem na ideologia do mundo, recebem a inimizade de algumas pessoas que rejeitam os princípios da luz. Os cristãos por fazerem a vontade de Deus muitas vezes são rejeitados e perseguidos. É mais um desdobramento da luta entre o Reino de Deus e o reino de Satanás. Jesus em Mateus 10:34 adverte os Seus seguidores para estarem atentos e não desanimarem diante desta realidade espiritual.
Não vim trazer paz à terra
A declaração “não vim trazer paz, mas espada” é um dito paradoxal. Por toda a Escritura encontramos o anúncio de que Jesus é o Portador da Paz (Salmo 72:3-7; Lucas 1:79; 2:14; 7:50; João 16:33; 20:19; Romanos 14:17; Efésios 2:14; Colossenses 1:20). O profeta Isaías identifica Cristo como sendo o Príncipe da Paz (Isaías 9:6). O próprio Jesus declara que são bem-aventurados os pacificadores (Mateus 5:9). Então como Ele mesmo poderia dizer que não veio trazer paz?
Os judeus esperavam um tipo de Messias que liderasse uma empreitada de libertação de Israel do julgo estrangeiro. Eles queriam um Messias que instituísse, aqui e agora, um reino terreno de plena paz e prosperidade que levasse Israel à supremacia entre os povos. Isso significa que Eles não compreendiam realmente que tipo de Messias Jesus era e qual o verdadeiro objetivo de sua missão.
Isso explica a expressão “não vim trazer paz”. Ao fazer essa declaração, Jesus estava alertando que Ele não havia vindo trazer o tipo de paz que os judeus esperavam. Em sua primeira vinda, Jesus não veio resolver os problemas terrenos deste mundo, mas veio executar o plano de Deus para a solução do problema do pecado.
Ele não veio trazer paz à terra, mas veio trazer ao coração do pecador redimido a paz com Deus (cf. Mateus 11:29). Por isso Ele diz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não a dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27). O apóstolo Paulo escreve que tendo sido justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo (Romanos 5:1).
Mas vim trazer espada
Após dizer que não veio trazer paz à terra, Jesus diz claramente que a consequência de sua vinda é exatamente oposta à ideia de paz terrena. Ele veio trazer espada! Isso não significa que Ele veio incitar a violência; não significa que Ele veio armar seus seguidores para que estes, por meio da força, possam conseguir novos discípulos.
Quando Jesus diz que veio trazer espada, isso significa que sua pessoa e sua mensagem causariam intensas divisões, discussões, debates, discórdias, reações contrárias de ódio e perseguições. Ao mesmo tempo em que Jesus traz paz ao coração daquele que abraça o Evangelho, a vida de seu seguidor neste mundo se torna mais difícil.
Isso implica na verdade de que ser cristão não significa ter uma vida de paz, tranquilidade e prosperidade terrena como os falsos profetas ensinam. Muitas vezes, em alguns aspectos, é exatamente o contrário disso. Os seguidores de Jesus devem esperar a espada. Isso porque a pessoa de Cristo, ao expor o pecado do mundo, causa uma divisão irreparável que resulta em perseguição.
A vinda de Cristo a este mundo o divide em dois, e coloca uma pessoa contra a outra. Essa divisão é tão profunda que muitas vezes à espada trazida por Cristo rompe até mesmo os laços pessoais mais íntimos. Jesus aplica uma profecia do profeta Miqueias e indica que por amor a Ele pessoas seriam perseguidas e desprezadas pelos membros de sua própria casa (Mateus 10:35-37; cf. Miqueias 7:6).
Por fim, a declaração “eu não vim trazer paz, mas espada” está diretamente ligada ao importante aviso de Jesus. Ele diz: “E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mateus 10:38). Cristo exige de seus seguidores fidelidade absoluta; Ele exige ser prioridade na vida de seus discípulos que devem estar dispostos a obedecê-lo e identificar-se com Ele até as últimas consequências, se for preciso.