Fariseu – Individuo hipócrita. Dicionário Aurélio
Fariseu - 1. Membro de uma antiga seita judaica que se distinguia pela observância irrestrita e formal dos ritos da lei mosaica. 2. Hipócrita – dicionário Michaelis.
O termo Fariseu geralmente é associado à hipocrisia e a legalismo, farisaísmo foi uma seita do judaísmo e lembra religiosidade e fanatismo.
No meio cristão quando se quer ofender alguém ou falar que fulano é hipócrita, é só chamá-lo de fariseu. Para muitos fariseu é uma raça de pessoas hipócritas e religiosas que condenaram e mataram Jesus. Porém as maiorias das pessoas desconhecem a origem do farisaísmo e quem de fato eram os fariseus.
Fariseu vem do hebraico P'rush ou Parushim (פרושים), transliterado para o grego é pharisaioi ou em aramaico perishaya, que quer dizer separado, não no sentido de ascetismo de se isolar das pessoas, pois os fariseus eram muito ligados a questão de humanidade, justiça e sociedade. Ser separado do mundo no sentido da busca de uma santidade elevada e de purificação se baseando nos preceitos da lei de D'us (torah).
Qual é a origem do farisaísmo?
O farisaísmo teve origem nos Hassidim (חסידים que é o plural de Hassid (חסיד), que quer dizer justos ou piedosos, aproximadamente no século II antes de Cristo, e teve uma grande importância no desenvolvimento do judaísmo rabínico e mais tarde do cristianismo. Os fariseus e os escribas desenvolveram uma forma muitos avançada de pedagogia através do ensinamento das escrituras, por isso eram conhecidos como doutores da lei.
Foram os escribas os pioneiros em fazer copias das escrituras hebraicas e os fariseus foram os primeiros a descodificar e a interpretar as escrituras sagradas. Eles foram os inventores das sinagogas ou casas de estudos.
Os primeiros missionários ou prosélitos eram fariseus, eles andavam por todo Israel e fora de Israel pregando a palavra de D'us. Eles tinham por objetivo conservar a tradição dos pais e ensinar a lei de D'us aos judeus que haviam sido contaminados com outras culturas e até mesmo aqueles que não queriam saber mais nada de religião.
Os fariseus eram pessoas muito zelosas e obedientes a lei de D'us, eles queriam doutrinar as pessoas dentro dos ensinamentos bíblicos, para isso eles criaram um manual de regras e de condutas (Halachá הלכה). Eles também conservavam com muito esmero aquilo que era passado de pai para filho, de geração e gerações, a história de seu povo e toda a tradição oral.
Os ensinamentos do farisaísmo, como já foram colocados, teve uma supra importância em expressar à compreensão das escrituras a massa popular do povo de Israel. Os fariseus formavam um grupo de pessoas que falavam a língua do povo. A origem do farisaísmo ainda é muito discutida, porém no inicio era formado por pessoas simples que saíram do meio do povo (agricultores, sapateiros, pedreiros, alfaiates, marceneiros...)
Jesus e judaísmo
Jesus é judeu, nascido na galileia na terra de Israel, tem por registro de nascimento o nome hebraico de Yeshua (ישוע), foi circuncidado no oitavo dia, cresceu e foi educado dentro dos costumes e da tradição da lei e da religião judaica.
Jesus (Yeshua) ao contrario do que muitos pensam e dizem nunca teve problema em guardar a tradição de seu povo e de ser um religioso, ele ia o templo, freqüentava sinagogas (casa de estudos), celebrava as festas bíblicas, se vestia como um judeu e se alimentava como um judeu.
É um costume da tradição judaica o menino quando faz 13 anos comparecer diante de um mestre para recitar um trecho da torah que corresponde o dia que ele nasceu (Bar Mitzvá), Jesus já com essa idade impressionou os grandes sábios do templo com seu conhecimento a cerca da lei de D'us. A bíblia diz que Jesus cresceu cheio do Espírito de Sabedoria, pois a graça de D'us estava sobre ele. Lc 2:39-40.
Ele trabalhou durante 90% de sua vida como carpinteiro para ajudar a sua família e somente aos 30 anos de idade começou a exercer o ministério e o seu chamado de mestre (rabino).
Para entendermos a relação de Jesus (Yeshua) com seu povo e com sua religião, não podemos desvinculá-lo do seu contexto histórico.
A relação de Jesus com os fariseus e com o seu povo.
O debate sempre foi muito comum entre os judeus, isso nunca foi um ponto de separação entre eles, pelo o contrário, geralmente todos os sábados os judeus freqüentavam as sinagogas para debater a respeito das escrituras e da lei de Moises. Existe até um ditado judaico que diz "onde tem dois judeus, existem pelo menos três opiniões diferentes".
No tempo de Jesus existiam muitas correntes dentro do judaísmo. Existiam além dos fariseus e escribas, os essênios, os zelotes, os saduceus, os herodianos, samaritanos e os judeus helenizados. Sem contar que Jerusalém havia sido tomada pelos os romanos e gregos, também tinham pagãos de todo tipo desde os gnósticos até ateus.
Jesus teve contato com pessoas de vários lugares e de todo tipo de crença possível. O mais intrigante é que a bíblia fundamenta o debate de Jesus justamente com os que mais conheciam da lei de Moises (fariseus, escribas e saduceus).
E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa. (Lc 7:36)
Jesus era uma figura publica não tinha dificuldades em relacionar com seu povo e em aceitar convites para jantar, ele se assentava com escribas, fariseus, prostitutas, mendigos, pessoas ricas e pobres, centuriões romanos, cobradores de impostos, leprosos e todo tipo de pecadores. As pessoas gostavam de estar com Jesus, porque além dele ser um grande mestre, a sua presença era agradável.
Jesus pode ter sido um fariseu. Ele freqüentava as sinagogas, pregava e ensinava nos dias de sábado, temos até uma passagem no livro de Lucas 4:16-31 que diz que ele leu uma passagem da tanach em publico. Sabemos que isso é uma pratica totalmente farisaica, somente quem é fariseu é que pode fazer isso, caso ele não fosse um dos fariseus, eles jamais deixariam ele entrar, pregar e ler uma passagem dos profetas dentro de uma sinagoga, outro detalhe, Jesus também acreditava em tudo o que os fariseus acreditavam, as doutrinas de Jesus era a mesma doutrina dos fariseus, porém as interpretações de Jesus era diferentes e superiores aquilo que fariseus pregavam.
Jesus não era contra os fariseus, ele era contra a hipocrisia de alguns fariseus. Ao ponto de dizer no livro de Mateus 23:2-6 - Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem, e não praticam. Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largas filactérias, e alargam as franjas dos seus vestidos, E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas.
O texto diz que devemos observar o que os fariseus pregam, porém não copiar o exemplo e as atitudes daqueles fariseus que se assentam na cadeira de Moises e alongam as franjas das roupas para parecerem mais santos. Ora, se Jesus fosse contra a doutrina dos fariseus porque ele está mandando os seus discípulos obedecer aquilo que os fariseus pregavam?
E os que tinham sido enviados eram dos fariseus; E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está um, a quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia das sandálias. (João 1:24-27).
Sabemos que João batista não era muito simpatizante com os fariseus, estudiosos dizem que ele era um essênio, pois vivia como tal, se alimentava de gafanhotos e de mel silvestre e ainda vivia em comunidades isoladas no deserto.
Os fariseus tinham tanques (Micvá) nas sinagogas, que serviam para rituais de purificação e de batismos (Imersão). A briga entre os fariseus e João batista se trava justamente neste ponto, pois se João batista não era fariseu, não era Elias e tão pouco o messias. Porque ele estava batizando as pessoas? Sendo, que os essênios não tinham esse costume. O fato intrigante para os fariseus era o motivo pelo qual João estava batizando as pessoas e anunciando o tão esperado salvador de Israel. Eles não sabiam que João batista tinha recebido a revelação da parte de D'us acerca de quem era o Messias.
Este texto me chamou muita a atenção a respeito do debate de João batista com um grupo de fariseus. Ora, se Jesus não era fariseu porque João batista está dizendo aos fariseus que no meio deles está um pelo qual eles não conhecem? João batista esta dizendo que no meio dos fariseus está um que ele mesmo não é digno de desatar as sandálias dos pés.
Naquele mesmo dia chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te. (Lc 13:31).
Este é mais um texto que mostra que nem todos os fariseus eram inimigos de Jesus. Nesta passagem os fariseus estão alertando Jesus do plano de Herodes em querer matá-lo.
Assim como hoje existem boas e ruins em todos os segmentos da nossa sociedade (política, religião, comércio...), também naquela época não era diferente, existiram fariseus verdadeiros e justos, assim também como existiram fariseus mentirosos, hipócritas e injustos. Geralmente nós generalizamos todos os fariseus de hipócritas e legalistas justamente porque alguns era um espinho nas sandálias de Jesus, porém nos esquecemos que também existiram muitos fariseus bons e justos como Nicodemos, Jairo, José de Arimateia, Hillel, Simão, Gamaliel e até mesmo Paulo.
E disseram-lhe de entre a multidão alguns dos fariseus: Mestre, repreende os teus discípulos. (Lc 19:39).
Os fariseus reconheciam em Jesus um grande rabi, que quer dizer mestre. Ora, os fariseus só chamavam de mestre alguém com que eles pudessem aprender acerca daquilo que eles eram e acreditavam. Outro detalhe é que somente os fariseus é que chamavam os seus mestres de rabi ou de rabone. Jesus foi e era chamado por estes dois títulos (Mt 23:7-8/Jo 1:49).
Os judeus de modo geral tinham no messias a figura de um rei, um libertador. Jerusalém estava sobre domínio dos romanos e vivendo um grande conflito político e religioso.
Segundo John L.Mackenzie, os fariseus "protestam" quando Jesus é saudado triunfadamente por seus discípulos e seguidores como um rei. Muitos na multidão imaginam Jesus dirigindo-se a Jerusalém para proclamar a queda do governador e tomar o poder. Lançam suas vestes diante de Jesus e de sua dignidade messiânica: Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! Enfim a Judéia voltaria a ser independente, sob o reinado de Yeshua bem Iossef, da dinastia de Davi, proclamado unanimente rei de Israel pelo o povo. "Alguns fariseus na multidão dizem: Rabi, repreende os teus discípulos". Não se trata de um protesto, nem do desejo de hostilizar Jesus, como escrevem tantos os comentadores. Esses fariseus, "alguns", estão cientes das conseqüências trágicas daquela manifestação desafiadora e subversiva a que estavam assistindo nas cercanias do poder local e romano. Poderia acontecer um grande tumulto dentro da cidade com o anuncio de um novo rei. E pior, poderia custar a vida destes que estavam iniciando o tumulto.